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  • Book cover of Poesia Minimalista

    Este livro surgiu a partir de material coletado em um concurso literário, desenvolvido por nós, da Toma Aí Um Poema, através da proposta minimalista. Nós solicitamos que os autores enviassem poemas minimalistas, referindo-se às questões da estética do movimento e não à poética do minimalismo. Portanto, a seleção deveria partir do ponto de que a poesia minimalista se apoia na economia de palavras e classes gramaticais, por meio de uma organização sintática enxuta, composta pelo mínimo possível de sintagmas; mas que, ao recorrer ao mínimo, revela com elegância e impacto la crème de la crème de la poésie contemporaine. Contudo, não foi isso o que aconteceu exatamente. O concurso recebeu mais de 750 inscrições, sendo a maioria de poemas curtos, frases filosóficas com rimas e instapoemas. Diante do material coletado, nós reparamos a necessidade de diferenciar a poesia minimalista destes outros estilos poéticos. A Poesia Minimalista, enquanto movimento artístico, é aquela que faz uso dos elementos fundamentais da linguagem como base de expressão e de criação, sem colocar em detrimento a qualidade literária: um poema curto, não é necessariamente minimalista; uma frase filosófica não é fundamentalmente um poema e a instapoesia é uma vertente literária sólida, constituída de métricas próprias. Em nossa seleção, procuramos entre todas as inscrições aqueles poemas que mais se aproximassem da poesia minimalista. Acreditamos que grande parte do material reunido atende ao estilo, mas que ainda existe um grande caminho a percorrer — visto que no Brasil, primeiro, o Minimalismo foi explorado enquanto poética; depois sofreu influências da geração mimeógrafo e, por fim, migrou para as tendências de versificação criadas pelo digital, o que deixou uma lacuna fundamental no Minimalismo enquanto linguagem. Agradecemos, especialmente a Luci Collin — poeta homenageada desta edição — que nos ajudou tanto na seleção, quanto a não fechar a questão antes da hora. Por isso, leitor do presente e, sobretudo, leitor do futuro, repassamos-te a pergunta: O que é a Poesia Minimalista? Toma Aí Um Poema, Jéssica Iancoski — Editora-chefe. QUEM PARTICIPA Adriano Tardoque, Alvaro Posselt, Amanda Kristensen , Ana Marinho, Camila Costa, Camila Nobiling, Carla Bastos, Cibely Zenari, Dan Porto, Débora Omena, Denis Scaramussa Pereira, Di Alencar, Elisa Giannella, Enilse Esperança, Felipe Maia Barbosa, Felipe Tognoli, Gabriel Nestor, Guilherme Fischer, Hana Brener, Hélio Sena, Henrique de Abreu, Humberto Pio, Italo Leite Saldanha, Joakim Antonio, João Pedro Rodrigues de Oliveira, Kaio Kolinski, Lara Kadocsa, Liana Timm, Lua Lopes, Lua Pinkhasovna, Lucas Nascimento, Luci Collin, Luciano Dídimo, Maria Eduarda Lago, Maria Fernanda de Barros Batalha, Mariana Rossi, Matheus Gaudard, Osvan Costa, Otávio Henrique Martins, Paula Valéria Andrade, Paulo Rodrigues, Pietra Garcia, Rebeca Oliveira, Rodrigo Celestino Rocha, Rodrigo Domit, Rodrigo Goulart, Ronaldo Rhusso, Rony Santos, Rozana Gastaldi Cominal, Sammis Reachers, Sandra Fontenelle, Tácio Pimenta, Talita Galindo, Thais Cristina Lacortt Ferrari, Thássio Ferreira, Thomas Brenner, Tiago Alves Martins, Victor Coimbra, Valeska Brinkmann, Vinicius Morais de Souza, Vitória Vozniak. POETA HOMENAGEADA DA EDIÇÃO — LUCI COLLIN Luci Collin é ficcionista, poeta, educadora e tradutora. Na USP concluiu o Doutorado e dois estágios pós-doutorais. Tem mais de 20 livros publicados entre os quais Querer falar (Finalista do Prêmio Oceanos 2015), A palavra algo (Prêmio Jabuti 2017), Rosa que está (Finalista do Prêmio Jabuti 2020) e Dedos impermitidos (contos, 2021). Participou de diversas antologias nacionais e internacionais (nos EUA, Alemanha, França, Bélgica, Uruguai, Argentina, Peru e México). Ocupa a cadeira 32 na Academia Paranaense de Letras.

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    Humberto Pio

     · 2021

    "O aparecimento de Talagarça de Humberto Pio é, desde o título, um acontecimento que justifica esse esforço em favor da poética da linguagem. Por um instante, nossa mente revolve o idioma que aprendemos a imitar desde muito cedo, faz aproximações, analogias, suposições, hipóteses e o título permanece ali como um vocábulo sem significado aparente. Essa sensação entre a incompreensão e a ignorância serve como alerta: a língua vai muito além desse conjunto de palavras corriqueiras que usamos no modo automático, aliás, ela não se resume à tarefa de comunicar o trivial ou o irrelevante. Há quem parta do princípio de que o poema é uma mimese da fala, sobretudo na sua função de externar os pensamentos de alguém. É justo que se pense assim, e que o poema seja uma expressão bem-acabada e altamente elaborada da estrutura do idioma, a partir de figuras, ritmos, coesão, enfim, elementos e fórmulas que juntas propiciam uma relação sensível entre o que o poeta diz e o que efetivamente chega ao leitor. Não estão errados, mas a poesia pode ir muito além, pois o próprio pensamento não se limita às convenções da língua que desde cedo nos condicionamos a repetir e a reproduzir em diversos usos da rotina da comunicação. Mas não custa lembrar uma passagem conhecida de Maiakóvski no seu Como fazer versos: “insisto muito na seguinte observação: eu não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta, para que escreva versos. E, em geral, tais regras não existem. Damos o nome de poeta justamente à pessoa que cria essas regras poéticas.” Organizar ideias, memórias, sensações e experiências sem passar necessariamente pelas orações e estruturas sintáticas é um dos muitos desafios que identificamos em Talagarça, uma organização que exige um controle da linguagem que explora as muitas possibilidades do uso da palavra, pois é no uso dela (e de seus componentes, os fonemas, as tipologias, sua disposição na página) que reside sua materialidade. Citado Maiakóvski, não é necessário agora citar Mallarmé, que já está mais que evidente. Pela alegoria de Talagarça reaproximamos o corpo e a experiência urbana, algo que a própria língua já havia há muito conectado, carne e cidade, dois tecidos, dois suportes sobre os quais construímos a história. Bordar, bordamos todos, já cardar toda essa lã grosseira e emaranhada que é a realidade, bem, quem sabe este seja um encargo um tanto mais restrito, não exclusivo dos poetas, diga-se, mas seguramente eles estão entre os que nos dão a possibilidade de encontrar um fio que possa ser seguido." Paulo Ferraz