· 2024
Censura, nunca mais! A censura voltou a assombrar, e um de seus principais alvos tem sido os livros para crianças e jovens. Hoje ela atua em várias frentes: como no passado, denuncia obras que contrariam o moralismo ou compartilham posições progressistas; recentemente, porém, somam-se novas facetas, quando, em nome do chamado politicamente correto, obras são condenadas, e seus autores, cancelados. E se, então, cabia aos órgãos de segurança reprovar ou liberar produtos culturais, no presente o movimento é liderado por organismos educacionais ou entidades civis. Que encontram canais públicos de difusão, como a internet, o que maximiza o alcance de suas ideias. A literatura infantil e juvenil é objeto de controle desde o início de sua trajetória no Ocidente. Os adultos nunca deixaram de acreditar que poderiam determinar o que crianças poderiam ler ou estudar. Mas o melhor do gênero vai na contramão do autoritarismo, pois aposta na criatividade e autonomia de seus destinatários. Por isso, é tão importante reverter os prejuízos da censura. E para não reproduzir o comportamento dos censores, proibindo o proibido, cabe escolher outro caminho; e esse coincide com o adentramento no coração das obras perseguidas, para revelar suas qualidades, bem como sua contribuição ao crescimento íntimo de seus leitores. Situa-se aí o mérito de Literatura infantil e juvenil na fogueira, cujos autores, renomados estudiosos brasileiros, examinam, com discernimento e profundidade, o que livros destinados a crianças e jovens têm a dizer, ajudando o público a conhecer as pessoas, a sociedade e a história. Não é esse, porém, o único mérito de Literatura infantil e juvenil na fogueira. Ao enfrentar a assombração da censura, colabora para rechaçá-la e, se possível, suprimi-la de nosso horizonte, colocando em seu lugar a compreensão e o bom senso, princípios fundamentais para quem busca felicidade e justiça. Regina Zilberman
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O livro exemplifica um natural descompasso verificado entre a produção literária de um lado e a produção crítica de outro, vez que nela lançamos nosso olhar sobre a obra de Lya Fett Luft (1937), escritora gaúcha que dá início à sua carreira literária em 1980, com a publicação do romance As parceiras, rapidamente seguido pela publicação das obras de ficção A asa esquerda do anjo em 1981 e Reunião de família em 1982. Após essa produção de seis romances e dois livros de poemas, em 1996 Lya Luft inaugura outra vereda literária, seus chamados textos de reflexão, nessa vertente textual, encontram-se o ensaio literário O rio do meio, de 1996, Secreta mirada, de 1997 e o romance ensaístico Histórias do tempo, de 2000. A escolha da obra luftiana como corpus literário a ser examinado no presente livro seguiu, a princípio, um impulso notadamente pessoal, fruto de nossa simpatia e admiração pela obra da escritora. Paira em sua escrita uma densa atmosfera psicológica, perscrutadora da alma humana, irrigada pela riqueza das imagens, símbolos e mitos de reiterada presença em sua imaginação criadora.