· 2018
Dialogar com outros textos literários ou mesmo textos pertencentes ao universo jovem – sejam eles da música, do cinema, da televisão – parece ter sido a forma encontrada de fazer ficção pelos autores de obras juvenis. Apropriando-se de textos alheios das mais diversas formas – seja por meio da paródia, imitação, citação, pastiche, dentre outros – os textos destinados aos leitores em formação, na contemporaneidade, apresentam-se repletos de ecos intertextuais, revelando-se como um mosaico de citações e alusões a outros textos, uma escrita sobre a escrita, a qual faz apelo à natureza associativa do pensamento humano, possibilitando a reconstrução de um todo a partir dos fragmentos armazenados na memória.
· 2024
Censura, nunca mais! A censura voltou a assombrar, e um de seus principais alvos tem sido os livros para crianças e jovens. Hoje ela atua em várias frentes: como no passado, denuncia obras que contrariam o moralismo ou compartilham posições progressistas; recentemente, porém, somam-se novas facetas, quando, em nome do chamado politicamente correto, obras são condenadas, e seus autores, cancelados. E se, então, cabia aos órgãos de segurança reprovar ou liberar produtos culturais, no presente o movimento é liderado por organismos educacionais ou entidades civis. Que encontram canais públicos de difusão, como a internet, o que maximiza o alcance de suas ideias. A literatura infantil e juvenil é objeto de controle desde o início de sua trajetória no Ocidente. Os adultos nunca deixaram de acreditar que poderiam determinar o que crianças poderiam ler ou estudar. Mas o melhor do gênero vai na contramão do autoritarismo, pois aposta na criatividade e autonomia de seus destinatários. Por isso, é tão importante reverter os prejuízos da censura. E para não reproduzir o comportamento dos censores, proibindo o proibido, cabe escolher outro caminho; e esse coincide com o adentramento no coração das obras perseguidas, para revelar suas qualidades, bem como sua contribuição ao crescimento íntimo de seus leitores. Situa-se aí o mérito de Literatura infantil e juvenil na fogueira, cujos autores, renomados estudiosos brasileiros, examinam, com discernimento e profundidade, o que livros destinados a crianças e jovens têm a dizer, ajudando o público a conhecer as pessoas, a sociedade e a história. Não é esse, porém, o único mérito de Literatura infantil e juvenil na fogueira. Ao enfrentar a assombração da censura, colabora para rechaçá-la e, se possível, suprimi-la de nosso horizonte, colocando em seu lugar a compreensão e o bom senso, princípios fundamentais para quem busca felicidade e justiça. Regina Zilberman
· 2020
Desde o final do século XX, o mundo tem conhecido inúmeras transformações, que interferem, de modo categórico e imediato, em nosso cotidiano e imaginário. Tais transformações perpassam desde o âmbito das relações político-econômicas (com o advento do Neoliberalismo e da Globalização) até o das comunicações (com o surgimento da internet e o desenvolvimento das novas mídias). Evidentemente, são mudanças que não atingem apenas nosso modo de estar no mundo, mas também, e principalmente, nosso modo de enxergá-lo e concebê-lo, isto é, a forma como imaginamos esta “outra” realidade que se nos impõe incontornavelmente. Com isso, passamos também a representá-lo diferentemente, o que tem repercussão direta no universo psicológico do homem e, portanto, em suas manifestações mais subjetivas, como a religião ou a arte.
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